Em estilo de adenda ao meu último post, venho por este meio desbaratar sobre a cunha. E não, não falo sobre a cunha para manter uma porta semi-aberta ou aquela que é colocada no sapato para ficarmos um pouco mais altos sem que os demais se apercebam, nem outra do género.
Estou a falar daquela cunha que se usa quando se pretende obter beneficios que de outro modo se demoraria mais tempo a obter ou, quem sabe, nunca se obteriam.
Não estou a falar de uma simples cunha para avançar numa fila, para obter uma informação ou para qualquer coisa dessas assim que a modos mais inocente.
Não julguem que o queijinho de ouro que está no céu tem o meu nome escrito, que não o tem, mas não posso com estas hipócrisias.
Falo-vos das cunhas que se usam para se obterem favores para, no fim, se progredir na carreira.
Anda uma pessoa a trabalhar horas e horas a fio, a maioria sem ter qualquer tipo de remuneração, a trabalhar fins de semanas e feriados, obrigando-se a estar longe da familia, para poder progredir na carreira, e quando há as promoções é-se colocado ostensivamente de lado! E ainda se é motivo de chacota porque se tentou lutar pelos seus direitos, apesar de à porta fechada estes serem dados como efectivos.
Quando os próprios sindicatos são unha e carne com os empregadores, quando contornam as regras e as hierarquias e o senso comum para que os seus favorecidos sejam, tal como diz o nome, favorecidos, sinto revolta.
Quando os trabalhadores são premiados não pela qualidade do seu trabalho, mas pelos almoços e jantares que pagam aos seus superiores, pelo vinho, azeite e afins que trazem da santa terrinha (conheço gente que se dá ao luxo de fazer a despesa para depois dizer que é da sua própria "herdade") e que lhes facultam, sinto revolta.
Quando os trabalhadores são premiados não pelas melhorias que apresentam para o serviço, mas pela sua presença nas festas e reuniões onde dão e recebem palmadinhas amigáveis, como se esquecessem das vezes em que lhes "talharam fatos" ou das vezes em que fizeram o mesmo, sinto revolta.
Quando me sorriem e depois falam descaradamente de mim pelas costas, sinto revolta.
Quando dizem concordar com as minhas opiniões e depois vão participar nos tais convivios, almoços e festas, como se fôssemos todos uma grande e feliz familia, sinto revolta.
Quando vejo no quanto a Humanidade evoluiu, mas no quanto retrocedeu também, sinto revolta.
Eu sei que é época de paz e amor, etc e tal, mas é mesmo nesta altura que sinto cada vez mais revolta, cada vez mais desilusão com tudo o que me rodeia.
Eu não preciso de palmadinhas nas costas, sorrisos falsos ou prendas em épocas socialmente marcantes, preciso apenas que sejam sinceros comigo... e convosco próprios!
PS - já depois de escrever este meu desabafo, fiquei a saber que uma certa pessoa tinha desistido da sua queixa, apesar de ter razão, para ver se ainda conseguia progredir na carreira. E antes que pensem mal dessa pessoa, fiquem desde já a saber que, com filhos menores a seu cargo, todo o dinheirinho conta...
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